Houve uma época em que a Vera Verão teve o seu próprio programa na Tv. Claro que essa época não durou nada. Quizá um mês. Minha empregada na época, a Regina, adorava esse programa. Ela achava a Vera um máximo e ficou arrasada quando tiraram o programa do ar.
– Porque ninguém tava assistindo.
– Você assistia.
– Só eu.
– Como sabem que só você assistia?
– Eles tem uma maquininha lá que dá pra ver.
Não preciso dizer que essa nova informação veio para revolucionar a minha vida. Se a Xuxa, a Eliana, a Angélica e até mesmo a Vera Verão podiam me ver lá dentro da Tv, eu não podia ficar na frente da televisão de qualquer forma, não é mesmo? Agora, ficar de cueca em casa só se a Tv estivesse desligada. Meu Deus! Quantas pessoas já tinham me visto de cueca? Deviam ter rido. E aquela camiseta rasgada? Não posso mais usar também. Vão pensar que eu sou um mendigo. Bem que eu reparava que as vezes eles olhavam bem na minha cara. Era isso: tavam me vendo. A mulher do Jornal Nacional me dava até ‘boa noite’, gente. Eu não respondia, achava que ela não tava me vendo. Mas, vem cá, será que eles podem ouvir a gente lá de dentro também? Minha mãe as vezes fala mal dos artistas. Climão. Devem estar todos putos com ela. Gente, que situação! Por que a Regina não me contou isso antes?
E assim eu passei a me arrumar pra assistir televisão. Esse era um mundo novo para mim. Em pensar que até outro dia eu era um bobo que achava que só a gente via o que acontecia dentro da Tv. Não sabia que eles também viam o que acontecia fora dela. Que idiota! Um dia a Xuxa falou que a gente tinha que escovar os dentes. Odiava escovar os dentes, mas passei a fazê-lo, afinal, ela estava de olho em mim. Ela era dessas.
Um dia eu descobri que a maquininha a qual Regina se referia não via ninguém e, na verdade, mostrava apenas o número de televisores sintonizados naquele canal. Era do tal do Ibope. Fiquei decepcionado.