Do Leonardo de 23 para o Leonardo de 30 anos

Carta escrita em 15 de junho de 2013 e nunca mais modificada ou lida.

Oi Leonardo de 30 anos,

Aqui quem fala é o Leonardo de 23 – quase 24. Espero que esteja tudo bem com você. Não em termos de saúde, embora isso seja fundamental. Aliás, você está bem de saúde, né? Ai, meu Deus. Espero que sim. Talvez você sinta dores nas costas ou nas pernas, porque eu não me exercito. Desculpa. Mas nunca é tarde para começar. Talvez seja a hora de se matricular em uma academia. Adiei isso por anos. Agora compete a você encarar essa. É, se ferrou. Mas, voltando à minha pergunta inicial, está tudo bem? Digo, você se sente feliz? Realizado? Comigo você pode ser sincero. Se estiver cansado de fingir, a hora é essa.
É possível que você não se lembre, mas eu decidi aderir a um grupo hippie ou tentar me unir a uma tribo indígena caso chegasse fracassado aos 30 anos. Há ainda a possibilidade de se matar, que não condeno, mas seria a declaração pública do fracasso. Você que sabe. Tem meu aval. Mas espero realmente que você não precise de nada disso, e esteja rindo ao ler essa carta, pensando “ai, como eu era tolo”. Eu não me adaptaria a um grupo hippie, porque eles usam drogas e eu não gosto disso, e também não conseguiria viver sem Internet em uma tribo indígena. Se bem que a ideia é essa: tentar um mundo novo. Vai ver, na sua época, os índios já tenham até wi-fi. Na minha, eles já têm contas de e-mails (que acessam de lan houses, eu acho). Não se fazem mais índios como antigamente. Há índios na sua realidade, aliás? Estou vivendo a construção das usinas hidrelétricas de Belo Monte, que vão prejudicar várias tribos e devem exterminar várias pessoas. Isso me revolta tanto, o massacre indígena. Gostaria de ser ativista neste sentido, mas não tenho personalidade para isso. Talvez você seja melhor que eu para defender uma causa.

Não sei por que estou falando tudo isso. Estou me perdendo nesta carta. Eu só quero saber se você conseguiu tudo o que planejamos. Você tem 30 anos. Mora sozinho? É um apartamento legal? Alugado ou próprio? Não me importarei se pagar aluguel, mas ficarei arrasado se você ainda estiver morando com a mamãe. Ou você encontrou alguém legal e divide apê? Casou? Meu Deus. Essa é uma possibilidade. Mas espero que você tenha morado sozinho antes de morar com alguém. É o que eu sempre quis: ter meu espaço. Mas, se você está feliz com essa pessoa, talvez isso não seja mais importante. Só fique ligado porque ele pode te abandonar a qualquer momento e você tem que ter condições de se manter sozinho. Você tem? Seu emprego é legal? Continua no jornalismo? Deu certo? Rolling Stone, O Globo, Bravo, Billboard, Folha? Algum emprego internacional? Uma cartomante sempre dizia que meu futuro era fora do Brasil, mas não sei se confio. Onde você mora? No Rio mesmo? Zona Norte ou Zona Sul? Zona Oeste não, por favor, porque o trânsito costuma ser pior. O Lins melhorou? Na minha realidade, ele está invadido por cracudos que evacuam nas ruas. Espero que você esteja longe disso.

Se não deu certo no jornalismo, você percebeu isso logo? Fez outra faculdade? Prestou concurso público? Você é funcionário do Estado? Nunca quis isso pra mim, mas era uma opção, caso tudo desse errado. Você ganha bem? Eu ganho mal. Ganhar bem o suficiente para ter uma vida independente é algo que sempre almejei. Ganhamos na MegaSena? Eu sempre quis ganhar. Houve uma época em que acreditava que ficaria milionário graças à sorte, mas faz tempo que não jogo. Talvez volte a jogar para te proporcionar uma vida melhor. Se você é rico, espero que não tenha deslumbrado. Não quero ser Lady Kate. Contrata a Glorinha Kalil para te dar dicas de etiqueta. Eu li um livro dela uma vez. Ela ainda está viva? Deve estar. Só não sei se na ativa.

Você continua escrevendo? A Dalila foi publicada? Ainda tenho só quatro capítulos, mas a acho tão próspera. Tenho medo de me frustrar com essa experiência, porque realmente não acho que escrevo bem o suficiente para fazer sucesso. E, eu sei, essa é uma história superficial e fútil, mas alguém tem que entreter os jovens. Gostaria que a Dalila ficasse famosa. Espero que você se lembre quem é Dalila, ao menos. Faz uma forcinha. Desistiu da escrita? Foi para a matemática? Abriu um negócio? O que você faz? Tenho tanta curiosidade. Eu queria que você fosse um repórter (ao menos) contratado pela revista Rolling Stone, ganhando bem, e entrevistando os astros do rock. Soa legal, né? Talvez seja amigo de alguns e tudo mais, tendo seus números pessoais de celular. Mas, se não der certo, também gostaria de trabalhar com a cobertura teatral. Abrir um site, uma revista, sei lá, voltado para hard news de peças e atores. Não existe isso ainda. As matérias de teatro são sempre frias. Nada quente. Por que televisão e cinema podem ser tratados como hard news e teatro não? Acho que faria um bem enorme para a cultura esse tipo de trabalho.

Tenho medo que você esteja me lendo e me achando bobo. Tenho medo que nada disso que eu falo tenha se realizado, e que você tenha desistido de tudo, da gente, ao ponto desses relatos parecerem engraçados. “Rolling Stone? Haha Vai sonhando!”. Algo assim. Não quero me acostumar ao fracasso. Não aceita que você se acomode e finja que não está frustrado! Se mate de uma vez, mas não caminhe por aí como se tudo estivesse bem. Não está. Se você é um zero a esquerda, não está. Não somos obrigados a viver de aparência.

E meus amigos? Estão bem? Mantém contato? Filipe, Lissa, Erica, Everton, Mariana, Marina, as meninas da faculdade, as meninas da pós… O filho da Kamilla já vai estar com sete anos quando ler essa carta. Aposto que você lhe dirá que o carregou no colo sempre que vê-lo. Você ainda o vê? Dá presentes? Ele gosta de você? Te chama de tio? Que engraçado: ter 30 anos. Vários amigos devem ter filhos e exibir as fotos orgulhosamente no Facebook, quer dizer, na rede social da sua época. O Facebook deve soar velho para você como o Orkut soa velho para mim. Você é padrinho de alguém? Seria bom, porque você não tem irmãos, então nunca será tio de verdade. Sente vontade de ser pai? Eu acho que sinto, mas para um futuro muito distante. Talvez com 40 anos. Quero realizar tanta coisa antes. Se você tiver realizado, talvez seja a hora de pensar no próximo passo. Se não, esqueça. Um filho não é uma segunda chance. “Fulaninho, filho de um jornalista desempregado, que sofria de depressão…”. Não, por favor. Não seja a origem triste da biografia desta criança.

E a vovó? Como ela está? Na minha realidade, ela está internada em uma clínica geriátrica por causa do Alzheimer, mas está bem. Tem lucidez, se locomove, tudo dentro da normalidade. A visito todo fim de semana. Minha mãe vai dia sim, dia não. Espero que isso não tenha mudado. A vovó não pode ficar abandonada sozinha em um lugar como aquele. Pense nisso, por mais que sua vida seja atribulada. Espero que ela ainda esteja bem, reconhecendo a todos e esse tipo de coisa. Essa doença é muito triste, e você tem que aproveitar enquanto ela ainda está aqui. Também não é justo que a mamãe enfrente isso sozinha.

E as viagens? Você conheceu o mundo? A América Latina, que gosto tanto, a Europa, que sonho, e todos aqueles lugares exóticos? Paris era tudo aquilo mesmo? Não me diga que você ainda não foi, senão ficarei muito triste. Não me diga, também, que você não foi à fonoaudióloga até hoje. Ou que ainda não colocou aparelho dentário. Ou que essa barriga escrota temporária virou fixa. É, você não pode ser um cara de 30 anos barrigudo. Senão, é hora de esquecer que não gostamos de exercícios e se matricular rapidamente em uma academia. Ou, claro, fazer uma lipoaspiração (mas tenho medo de me submeter a riscos cirúrgicos por pura estética).

Acho que já falei demais. Meu único intuito é te lembrar quem você era aos 23 anos e quais eram suas aspirações. Assim, agora que tem 30 anos, você pode fazer um balanço se sua trajetória teve mais conquistas do que derrotas. Dizem que essa é a idade do sucesso, então te forneci todos os parâmetros para que você saiba se esse é seu caso.

Mas deixa pra pensar nisso amanhã. Hoje divirta-se.

Abraço,

Leonardo de 23

Magia de Carnaval

Eu sei que não é todo mundo que entende o poder de comoção de uma escola de samba. E lamento. É pura arte. O maior espetáculo do planeta, realmente. Quem me conhece sabe que eu amo. Desde criança, o que eu mais gostava no Carnaval era ir à concentração das escolas ver os carros alegóricos na rua. Eu ficava absolutamente encantado com aquilo tudo. Na época, apenas sonhava em um dia assistir aos desfiles lá dentro da Sapucaí. E foi um passo após o outro até que isso acontecesse. A primeira vez que fui, minha mãe não tinha as informações e ficamos na arquibancada popular, já na dispersão – muito ruim. Depois, fui ao desfile das escolas mirins, em outro ano entrei para o desfile do grupo de acesso… Já era grande quando vi pessoalmente minha Beija-Flor, que eu sempre assistia só pela TV. Foi uma emoção inexplicável, e sempre que vou à Sapucaí sou tocado de alguma maneira, seja desfilando ou curtindo.

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