A passagem do Summer Soul Festival pelo Rio de Janeiro, na quarta (25/1), foi um máximo. Embora a expectativa estivesse toda voltada para o havaiano Bruno Mars, o headliner da noite, Rox, Dionne Bromfield, Florence + the Machine e o brasileiro Seu Jorge fizeram apresentações grandiosas e impecáveis para um HSBC Arena que enchia com o passar das horas.
A primeira a subir ao palco foi a inglesa Rox, a mais desconhecida do público. Dotada de um vozeirão e de um bom domínio de cena, ela apresentou suas canções segura do seu talento, mas visivelmente agradecida por estar ali. Para agradar a platéia, ela fez um cover dispensável de “Only Girl” da Rihanna, que não foi lá essas coisas, mas cumpriu com seu objetivo de despertar a galera.
Em outra vibe, Dionne fez um show coreografado, com a companhia de dois bailarinos, dando uma prévia do que estava por vir na noite. A cantora contou que era a primeira vez que ela se apresentava tão longe e em uma arena. Ciente do seu anonimato no Brasil, fez covers maravilhosos do Marvin Gaye e do Bruno Mars, mas empolgou mesmo quando lembrou a madrinha Amy Winehouse. “Ela podia ter cantado mais Amy” – ouvi uma pessoa lamentar. Achei bem dosado.
Já a banda Florence + the Machine não precisou recorrer aos covers, já que grande parte do público era seu, dominando todas as músicas do repertório (são dois CDs). Tão empolgada quanto empolgante, Florence soltou palavras em português, saltitou como um personagem de fábulas pelo palco e contou com a ajuda de uma backing vocal supimpa para dar conta do lado musical do show. O melhor momento foi “Dog Days Are Over”, que fez o HSBC Arena vir abaixo.
A atração seguinte foi Seu Jorge, que tinha duplo peso: além de ser o único artista nacional escalado, o cantor também é o de carreira mais extensa. Sua apresentação foi uma feliz surpresa, com uma produção superior a todas anteriores e do mesmo nível do Bruno Mars. Ele foi recebido de braços abertos pelo público, que já beirava a lotação do local, e embalou uma sequência de hits, que começou com “Mina do Condomínio” e terminou com “Burguesinha”.
Tinha curiosidade especial para assistir a um show do Seu Jorge e saí satisfeito. Ele fala a língua das pessoas e tem uma cumplicidade evidente com a banda, o que soma muito para a apresentação. Outros músicos poderiam, por exemplo, se negar a fazer aquelas coreografias enquanto tocavam. E fica ótimo.
Bruno Mars, vestido com camisa da seleção brasileira de futebol, usa a mesma tática dos instrumentistas coreografados e dança o tempo inteiro, com muitas referências ao Michael Jackson, com quem ele é exageradamente comparado. Mas seus melhores momentos são as baladas, como “Our Fist Time”, “Count on Me” e “Just The Way You Are”.
O mais impressionante é que Bruno só lançou um álbum – Doo-Wops & Hooligans – e é capaz de fazer um show, apenas com músicas próprias (com exceção de uma simpática brincadeira com a versão em inglês de “Ai Se Eu Te Pego”), repleto de hits. A conclusão é que absolutamente todas as suas músicas são conhecidas – não apenas os singles. Digo isso porque não houve o início de uma música que não fosse comemorado pela platéia, que fazia coro. No bis, ele cantou “Talking to the moon”, talvez a sua faixa mais conhecida pela massa brasileira, por ter sido tema da novela das 21h, e prometeu voltar. Aliás,todos prometeram.
O saldo é o de ter assistido aos primeiros passos de artistas com grande potencial. Fora o Seu Jorge, nenhum deles lançou mais que dois CDs, mas já são capazes de enfrentar com dignidade a platéia brasileira, que faz oba oba para qualquer um, mas também sabe se comportar mal quando desaprova. Vale lembrar o legendário Sir Elton John, que saiu do Rock in Rio aos gritos de Rihanna após uma apresentação sonolenta e morna.