No meio de tanta gente, foi você que eu vi

Eu te vi na praia. Ou era uma festa? Um show? Não sei, só sei que te vi, de novo, depois de tanto tempo. Tive aquela reação física que sempre tenho ao te olhar – uma mistura de angústia, adrenalina e medo. Uma sensação ruim, mas que eu gostava. Você estava no meio da multidão, a uma distância segura de mim. Eu poderia não ter te olhado, mas a vida é assim, cheia de situações inexplicáveis e, no meio de tanta gente, foi você que eu vi.

De repente, você me avistou, parou o que quer que estivesse fazendo, e me encarou. Naquele momento, eu soube: estava sonhando. Consciente do meu estado, classifiquei a cena como um pesadelo, mas evitei acordar. Foquei-me na experiência e fingi que não te vi, mas você veio, driblando as pessoas, até mim. Desde que descobri estar sonhando, sabia que passaríamos por isso.

Com sua falsa timidez, que me enganou por tanto tempo, você me cumprimentou. Em respota, dei minha melhor cara de desdém. “Oi”, “oi”. Você olhou para baixo, para os lados, colocou as mãos nos bolsos. Que jeitinho! Como se fosse frágil, inofensivo, indefeso! Você não me engana mais. Virei-me de costas, dando o encontro casual por encerrado. Enjoado da sua figura.

Pensei em abrir os olhos e dar um fim à cena constrangedora. “Ainda bem que é só sonho”, pensei, dentro do próprio sonho. Às vezes, acontece: sei que estou sonhando. O porquê de ser com você já não sei. Nada a ver meu inconsciente ainda se lembrar da sua pessoa. Sinto raiva de mim por te incluir no meu processo criativo dormente.

Você, como sempre, fica na minha cola. Diz que vai me pagar o que me deve. “Ah, você se lembra”, digo. “Ah, eu me lembro”, penso, em seguida, incomodado com meu inconsciente. Você se lembrar, neste caso, significa que eu me lembro. Sou eu quem crio suas falas, de certa maneira. Eu poderia te fazer pedir desculpas honestas, já que estou no comando. Mas não preciso passar por isso. Não dessa forma.

Abro os olhos e te extermino. Bom dia, dia. Adeus, você.

Condenáveis: novidades da semana [12]

Oi possível leitor (eu acredito que você existe!),

“Condenáveis – Uma História de Filho e Pai” não teve muitas novidades nesta semana, mas vim contar o que pouco que rolou. Saiu uma resenha nova, no site UP! Brasil, que tem um projeto muito interessante de incentivo à literatura nacional. Na verdade, o texto foi publicado há mais tempo, mas eles só me avisaram nesta semana, então está valendo:

O tema tratado na narrativa vai além das relações familiares e tenho certeza que muitos filhos irão se identificar com o narrador, não só em sua relação com o pai, mas pelos sentimentos que ele teve ao longo dos diversos acontecimentos.

Além disso, também publicaram uma entrevista nova sobre o livro no blog PC Literário. Estreei a coluna “Papo com PCL” – que honra! Segue uma prévia abaixo, mas entre no site para ler tudinho:

Qual foi a sensação de ter um livro seu publicado e poder ver seu nome na capa?
Sensação de missão cumprida. Às vezes, eu penso nisso mesmo. É divertido pensar que, se eu morrer amanhã, meu relato permanecerá no mundo. É uma maneira de continuar vivo.

Basicamente, as notícias de “Condenáveis” são essas, mas quero compartilhar outra, que não tem a ver com este livro, mas com meu próximo projeto. Como alguns sabem, eu já tenho uma ideia que quero explorar em um romance de ficção – algo muito embrionário ainda. Mesmo assim, tentei a sorte e me inscrevi no processo seletivo para ganhar uma bolsa de financiamento da Biblioteca Nacional. Tentei. Não consegui.

Sabe o que houve? O edital pedia que os candidatos enviassem um texto de 15 a 20 páginas, além da proposta de projeto, pelo correio. Eu enviei um texto de 10 páginas. Por que fiz isso? Porque sou doido. Li várias vezes o edital e jurei que eram 10. Mas não eram, claro, como você bem entendeu (com mais facilidade do que eu). Fiquei inabilitado de participar da seleção – o que foi bom de certa maneira, porque não tenho tempo para me dedicar a algo grande no momento. Mas, claro, eu queria encarar a loucura que seria isso. Deixa para a próxima.

Para comprar o livro, acesse as lojas AGBOOK ou CLUBE DE AUTORES.

Você nunca me fez nada, mas…

Não é como se eu considerasse te enfocar. Nunca faria isso. Juro. Mas também não me incomodaria se alguém fizesse. Na verdade, muitas vezes, torço para que te enforquem na minha frente, só para que eu possa me deleitar com a cena dos seus olhos esbugalhados e da sua boca arreganhada. Você merece. Eu mereço. O enforcador também.

Não, não sou malvado. Você também não é. Nunca me fez nada. Nem mesmo aquele seu comentário da semana passada eu tenho certeza que foi para mim. Não acho que foi, quando penso sobre isso. Você não teria me confiado sua rispidez se eu fosse seu alvo. Mas é impressionante que você pense assim sobre alguém. A repugnante é você. Será que não percebe? Sempre tão arrogante, tão pedante, tão agressiva.

Tenho a impressão de que você memorizou meia dúzia de nomes e teorias e faz questão de incluí-los em todas as conversas só para auto-afirmar sua superioridade intelectual. Só que não funciona. As pessoas não te admiram, elas te detestam. Ninguém te acha superior ou amedrontadora, te julgam apenas chata. Olhe para mim, torcendo que te enforquem.

Enquanto isso não acontece, passei a ignorar seus comentários, para o bem ou para o mal. Detesto quando você me cochicha alguma observação ácida como se ninguém estivesse reparando. Nunca consigo te ouvir direito e sempre tenho que dizer “quê?”. Às vezes, simplesmente finjo que não te escutei falar e faço cara de paisagem. Não gosto de que você ache que somos amiguinhos.

Você é baixo astral, pesada, angustiante. Sempre com falas desagradáveis e pontos de vista negativos. Não sei como seus amigos te aguentam. Às vezes, me pergunto se eles “gostam de você, apesar de” ou se fantasiam em te enforcar enquanto lidam com seu ego. Eu não gosto de você, mas alguém deve gostar. Seria legal que ao menos uma pessoa lamentasse quando você estivesse estirada no chão. Eu faria cara de chocado e me perguntaria qual seria seu comentário sobre a situação.

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