Acusado de roubo no Paraguai

Estava em Posadas, cidade argentina que se interessa pela cultura brasileira, mas faz fronteira é com Encarnación, cidade paraguaia. Quis aproveitar a oportunidade, atravessar a ponte e conhecer mais um lugar.

Nunca me interessei pelo Paraguai. Pelo contrário. Não vou disfarçar minha aversão ao país. Sempre achei que fosse um lugar feio – ou melhor, horroroso. Paraíso das muambas e dos produtos falsificados.

Assim que cheguei lá, confirmei tudo isso. As pessoas se comportam com selvageria na migração – tanto quem está em trânsito quanto os funcionários – e o local tem um quê de faroeste, de abandono. E é quente, ainda que fosse inverno.

Encarnación é, segundo o Wikipedia, a terceira maior cidade do país, economicamente falando, atrás apenas de Asunción e Ciudad del Este. “Imagina o resto”, pensei.

Recorremos algumas lojas de eletrônicos, vimos alguns produtos e, a todo momento, desconfiávamos estar lidando com mercadoria falsa. Quanto mais barato, maior a desconfiança.

Os vendedores eram meio lentos. Não sabiam explicar as características e o funcionamento do que vendiam. A sensação é de que eles vendem com tanta facilidade que já não se importam mais com nada.

– Tem gravador de voz?
– Sim.

E quem disse que eles iam buscá-lo? Nada. Te encaram como se você tivesse sido pouco claro na sua abordagem. “Você pode me mostrar?”. E aí, sim, eles te encaminhavam até o produto. Era bizarro.

Mas o pior mesmo aconteceu quando um vendedor saiu correndo atrás de mim e do Nico pelas ruas, gritando por um cabo USB que ele achava que tínhamos roubado. Para completar, ele tinha uma ascendência árabe – ou algo assim – que nos impossibilitava entender seu espanhol. Era algo como “pnsjnfwemkfmabfskfd USB”.

Nico começou a mostrar os bolsos, para provar que não tinha pego nada. Eu não pensava em fazer o mesmo. Pensei na vergonha que era aquela situação: ser acusado de roubo no Paraguai. Justo lá. Que situação…

O cara começou a olhar para mim – que não tinha mostrado meus bolsos ainda – e passou a pedir para que voltássemos à loja. Não faríamos isso. Expliquei que o produto que vimos sequer tinha cabo. “Se eu fosse roubar, roubaria o gravador e não o cabo”, pensei. O cara não entendia.

Começou a se alterar, dizendo coisas incompreensíveis. “Não tô entendendo nada”, falei com firmeza e raiva. Expliquei de novo que sequer existia um cabo para ser roubado, mas ele estava convencido do furto. Resolvi mostrar meus bolsos também.

Outro vendedor o gritou – provavelmente percebeu que a caixa não continha cabo mesmo – e o cara foi embora, nos deixando ali, no meio da rua, com cara de tacho. E nem pediu desculpa. Bem vindo ao Paraguai, Leonardo.

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