A memória fotográfica de Andrea Bocelli

– Andrea Bocelli vai vir fazer show de novo, mãe.

– Ah, é?

– É. Vai cantar com a Sandy em Belo Horizonte.

– Que legal! Quando ela cantou com ele, era tão novinha. Será que ele vai reconhecer agora?

– HAHAHAHAHHAHAHA MÃE!

– O que foi?

– O Andrea..

– É cego! Esqueci! Estou tão acostumada que já nem percebo. Ele vai ficar tocando o rosto dela.

Na corda bamba

Mais uma vez me disseram “não, obrigado”. Mas quem agradeceu aos céus fui eu, por não ter tempo para pensar nessa situação. Se tivesse… isso me desestabilizaria. Como sempre. Odeio a minha fragilidade ao ser mal avaliado.

Às vezes, acredito que não suporto ser colocado à prova, mas isso é mentira. Desde pequeno, sempre gostei de ser avaliado. A semana de provas me dava uma adrenalina incrível – coisa de nerd. Eu não gostava de estudar, mas uma vez que já tinha estudado… a prova era como uma competição minha contra o professor.

Quando caminho na rua, tento andar em linha reta, na beirada da calçada, me equilibrando naquele retângulo cimentado. Eu tenho toda a calçada para caminhar, até mesmo toda a rua, mas gosto de me sentir na corda bamba. É curioso isso. Eu meio que não cresci nesse aspecto – levantando a perna e esticando os braços em público para evitar a queda.

Mas me equilibrar e fazer provas escolares ou acadêmicas são atividades que eu sei que sou capaz de desempenhar bem. Gosto quando comprovo isso, quando confirmo. Mas se caio, rola uma decepção profunda comigo mesmo. É mais ou menos o que anda acontecendo.

A questão não é me submeter à avaliação, é ser reprovado. Não sei lidar com isso, ainda hoje. Imaturidade talvez. Imagino que ninguém goste de se sentir desqualificado, é claro. Mas eu vou além. Eu me sinto o coco do cavalo do bandido. Me diga qual é o perfil que você quer, que eu me encaixarei.

Sophia Reis se despe de pudores em Os 3

RIO – Às vésperas do lançamento do filme “Os 3”, Sophia Reis (“Meu Tio Matou um Cara”), atualmente trabalhando como repórter-apresentadora do programa “A Liga”, da Band, aproveita a oportunidade para lembrar ao público que ela ainda é atriz. “Essa é a minha formação, isso é indiscutível. É claro que as pessoas tendem a achar que eu só trabalho na televisão, mas isso não me importa. Nunca deixei de fazer nada porque estou na TV”, ela disse em entrevista à Pipoca Moderna.

Afastada dos sets desde 2006, quando estrelou o curta “Esse Momento”, seu retorno ao cinema exigiu que a atriz se desnudasse e filmasse uma cena de sexo. O diretor Nando Olival (“Domésticas”) pediu que ela tirasse a roupa já nos testes para o elenco. “Ele me mandou ficar só de calcinha e sutiã. Pensei ‘Opa! Oi?’. Mas é porque a minha personagem é assim, mais exibidinha. Ele queria ver se eu tinha segurança e confiança para interpretá-la”, explicou.

No filme, Sophia é Bárbara, uma garota que chega de mala e cuida, sem avisar, ao apartamento onde a prima mora com dois amigos. Na sua segunda cena, ela já mostra os seios e transa com um dos protagonistas (Victor Mendes, da série “Tudo que É Sólido Pode Derreter”), que ela acabou de conhecer.

Para atriz, a ousadia da personagem não foi um problema. “A cena de sexo é totalmente nua e crua, sem amor nenhum. Então, a minha preocupação é que aquilo não ficasse vulgar. Mas em nenhum momento eu hesitei em fazê-la. Não acho que nada do que apareceu é gratuito. Ficou maravilhoso. Acho que não poderia ter sido melhor, na verdade”, explicou.

Filha do cantor Nando Reis, Sophia assume a herança hippie, se diz totalmente liberal e defende a sua personagem. “Ela quis dar para o cara, e daí? Não é biscate, não é do mal por causa disso. Não existe regra para você se apaixonar, se relacionar. Acho que a gente tem que ser mais livre, mais sincero e menos hipócrita”, opinou.

Ela também é a favor do relacionamento a três que a trama propõe, argumentando que essa é uma realidade possível. “Sou que nem Lulu Santos: ‘toda forma de amor’. Se você quer namorar a três, namora. Se não quer, não namora. Se quiser dar para todo mundo, dá para todo mundo. Acho que a gente julga demais. As pessoas deviam ser menos recalcadas e pudicas. Temos que torcer pela felicidade, seja a três, a quatro, a cinco, com pessoas do mesmo sexo, enfim”, discursa.

O exercício de tolerância aguçou com o programa “A Liga”. A atriz conheceu diversas realidades diferentes durante as gravações, o que a ajuda a ter mais bagagem e referências na hora de atuar. “O programa é uma experiência de vida, me acrescenta muito pessoalmente. É enriquecedor”, diz.

Apesar disso, Sophia dá a entender que não sabe se continuará no programa no ano que vem, porque está envolvida com projetos teatrais e cinematográficos, que prefere manter em segredo. “Não quero falar para não zicar”, protela, mas já contando.

Por Leonardo Torres
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Atores ponderam amizade colorida a 3

RIO – São três jovens atores em começo de carreira, que já se conheciam de cursos de interpretação e teatro, e se tornaram ainda mais íntimos – muito íntimos – durante as filmagens de “Os 3″. Agora, eles dividem a mesma empresária, planos e expectativa para a estreia do filme, que teve première no Festival do Rio e chega aos cinemas em novembro.

No filme, Juliana Schalch, Gabriel Godoy e Victor Mendes vivem Camila, Cazé e Rafael, amigos que dividem um apartamento durante os anos de faculdade. Quando se formam, decidem transformar o lar em um reality show para continuaram juntos por mais tempo. Os problemas começam quando resolvem encenar um triângulo amoroso para garantir a audiência, deixando a relação mais… interessante.

Os três de “Os 3″ foram dirigidos por Nando Olival (“Domésticas”), que este ano já chamou atenção ao assinar o bem-sucedido clipe/comercial de celular de “Eduardo e Mônica”. Ele também assina o roteiro, escrito a quatro mãos com Thiago Dottori (“VIPs”), a partir da observação de como a geração dos seus filhos está entregue à falta de privacidade com o domínio das redes sociais.

“Mas eu tive o cuidado de não transformar isso em uma crítica”, ele explica. “Não queria que soasse como um sermão. Apenas observei esse universo. O filme não se posiciona nem contra nem a favor dos realities, até porque eu não tenho uma opinião formada sobre isso. O mundo é assim, não adianta lutar contra isso”, constatou.

A temática ajudou a atrair os atores – todos novatos no cinema, com exceção de uma ponta que Juliana fez em “Tropa de Elite 2” – para a bateria de testes. “Achei muito legal discutir essa questão. O que o filme faz é colocar esses personagens para serem os atores, os diretores e os roteiristas do próprio reality”, diz a atriz, que trabalhou na novela “Morde & Assopra”.

Ela e Victor passaram por seis testes até serem aprovados, numa seleção que envolveu 150 jovens. Uma das preocupações do diretor é que o trio protagonista tivesse química entre si e, por isso, ele testou vários grupos. Ninguém foi aprovado individualmente – Gabriel quase ficou de fora, porque era considerado velho demais para o personagem: na época, ele tinha 25 anos.

O ator, que interpreta o desencanado Cazé, contou que pesou na escolha o fato de ele, Juliana e Victor já se conhecerem antes das filmagens. Tinham estudado juntos. “Se já existia uma mínima relação entre a gente, ficou maior a partir do momento em que eles me acolheram nos testes”, revelou.

Nando acredita que foi feliz na seleção do trio. Durante o mês de filmagens, os atores criaram vínculos tão fortes e uma intimidade tão grande, que o diretor se questionou se seria capaz de levar aquilo para a tela. “Eles estão muito mais próximos do que consegui mostrar no longa. Até hoje, continuam colados, rindo um do outro, se beijando, se tocando”, entrega. Victor, o mais novo da turma, confirma. “A gente ficou muito amigo mesmo. Saímos do set muito próximos”, diz.

Essa cumplicidade foi essencial para as duas cenas de sexo do filme. Nenhum dos atores, nem o próprio diretor, tinham experiência com esse tipo de filmagem. “Acho complicadérrimo. Eu quis protegê-los ao máximo. Me senti um pouco pai nesse momento. As cenas são mais sentimentais que eróticas. Mas devem ter sido difíceis para os atores”, acredita Nando.

Os atores contam que houve um cuidado especial para que todo mundo se sentisse confortável e respeitado durante as filmagens. “A gente ensaiava com muito cuidado, para isso não ser confundido com algum interesse particular”, disse Victor. “A cena que fiz com a Ju é muito delicada, bem marcada, com movimentos muito específicos. Cada toque no corpo significava muita coisa”, esclarece. “E somos formados em teatro, não é nenhum tabu, estamos acostumados com isso”, ressaltou.

O tema do triângulo sexual não chega a ser novidade no cinema – inspirou desde o clássico “Jules e Jim – Uma Mulher para Dois” (1962) até os mais recentes “E Sua Mãe Também” (2001) e “Os Sonhadores” (2003), sem esquecer a série “Aline”, na TV Globo. “Mas o Nando falou para relaxarmos”, disse Gabriel sobre as referências. “A maneira como o triângulo se apresenta é bem inusitada”, ressalta Juliana. “E no momento que ele surge, vem como trator”.

Eles também não se sentiram desconfortáveis ao assistir às cenas de sua intimidade com o público, durante o festival. Os três concordam que o que prevaleceu foi a emoção de ver um trabalho realizado há dois anos finalmente chegando aos cinemas. “A sensação é de realização com a resposta do público”, diz Victor. “É muito gostoso ter o retorno da plateia. Esse é um trabalho de qualidade”, avalia a atriz.

Por Leonardo Torres
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Diretor avisa: Sudoeste é um filme diferente

RIO – “Sudoeste” tirou os cinéfilos do Festival do Rio de sua zona de conforto. Exibido na quinta (13/10) e na sexta, o filme, que já tinha impactado o Festival de Gramado, foi antecedido, em ambas as sessões, por um aviso do diretor Eduardo Nunes: “A proposta desse longa é bem diferente, então estejam dispostos a isso”.

O filme tem três características peculiares: a ausência de cor, o enquadramento excessivamente horizontal e o tempo irreal. Esses fatores estão intimamente relacionados para criar a atmosfera de uma fábula. “Não consigo imaginar ‘Sudoeste’ colorido. Seria um desastre. A cor leva muito para o real. O preto e branco mostra o que já aconteceu, que está apenas sendo contado”, explicou o diretor, que escreveu o roteiro a quatro mãos, com Guilherme Sarmiento (“Conceição: Autor Bom é Autor Morto”).

Carioca, natural de Niterói, Nunes, de 42 anos, tem uma premiada jornada como diretor de curtas. Mas levou dez anos para filmar sua estreia em longa por falta de verba. Quando finalmente conseguiu tirar o projeto do papel, reuniu uma equipe técnica de fazer inveja, com profissionais como Mauro Pinheiro Jr., diretor de fotografia de “Linha de Passe” (2008), “Os Famosos e os Duendes da Morte” (2009), “As Melhores Coisas do Mundo” (2010) e “O Abismo Prateado”, entre outros.

“Eu nem me lembro de ter enquadrado em colorido”, reflete Pinheiro Jr, sobre a fotografia de “Sudoeste”. “Para mim, sempre foi assim, em preto e branco. Quanto ao enquadramento, eu comecei a cortar as fotos das locações e percebi que elas estavam mais horizontais que o normal. Propus que fosse assim, porque poderíamos dar closes e, mesmo assim, mostrar a natureza, que marca a passagem de tempo da trama”, explicou.

A história se passa no fim do século 20, em uma pequena vila abandonada, que dá seus últimos suspiros graças a uma salina decadente. Tudo começa com a morte de uma mulher durante o parto e o sequestro do seu bebê, dado como morto, por uma espécie de bruxa (Léa Garcia, de “O Maior Amor do Mundo”). O filme acompanha a vida dessa criança, que cresce e envelhece rapidamente, em contraposição ao tempo cronológico das outras pessoas e do andamento “europeu” da trama. Em apenas um dia, ela é bebê, criança, jovem e senhora.

“São dois tempos paralelos: o da vila e o dela. O da personagem passa mais rápido. Na verdade, o filme é totalmente linear, porque a acompanha o tempo todo. As pessoas não percebem isso no início e acham que não é linear, mas na verdade é. O conceito é a comparação do tempo”, destaca o cineasta.

A personagem que domina a tela chama-se Clarice – em homenagem à Lispector – e é interpretada, na fase adulta, por Simone Spoladore (“Elvis e Madona”). “Ela tem uma força e uma sutileza no rosto, que eu admiro muito. Ela ajudou muito o filme, indicando atores e enviando fotos de sua infância, para que buscássemos uma criança parecida. A Simone foi fundamental”, ressaltou Nunes.

Apesar de contar também com Dira Paes (“A Festa da Menina Morta”) e Mariana Lima (“A Suprema Felicidade”) no elenco, o filme teve um orçamento baixo, em grande parte por conta da película em preto e branco. E a opção foi defendida pelo produtor.

“A gente não faz cinema para ficar rico. Eu faço os filmes pelo roteiro, pela personalidade do diretor. Sempre produzi filmes que não eram de mercado”, disse Patrick Leblanc (“A Casa de Alice”).

Ele sabe que as diversas peculiaridades do filme não irão lhe permitir uma grande distribuição. Mesmo assim, seu olhar, assim como o de toda equipe, é otimista. “Vai dar público? Não. Mas vai rodar o mundo? Vai. Agradará quem gosta de cinema? Com certeza. ‘Sudoeste’ vai ficar para a história”, aposta o produtor.

Por Leonardo Torres
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