Faltam 20 minutos para o espetáculo começar e ela já está na porta. Não na fila, mas na porta. Os outros espectadores notam sua presença, mas tentam agir com naturalidade. Afinal, estamos no Rio de Janeiro, a Hollywood brasileira.
Ela está elegante, mas na medida certa. É fina, mas não intimidadora. Sozinha, como eu, com ingresso na mão. Ela trouxe um presente para a atriz e fala com o segurança que gostaria de entregá-lo antes do início da peça. O armário chama um produtor, que não esconde sua admiração e tratamento especial. Agora é ela que finge não notar e age com naturalidade.
– Você pode entregar isso pra ela?
– Você quer que eu a chame aqui?
– Não. Só queria entregar isso.
– Eu a chamo, se você quiser.
– Não, obrigada, não precisa.
– Você quer ir lá entregar?
– Não, se você puder dar para ela, já fico satisfeita.
A porta da sala abre e ela continua ao lado da fila. Todo mundo acredita que ela entrará antes, passando na frente. O primeiro da fila chega a esperar que ela passe na frente ultrapasse. Mas a senhora de cabelos grisalhos – era esse o visual atual – não faz isso. Ela só entra depois que a fila termina.
Os lugares são marcados e ela tem certa dificuldade para encontrar o seu na meia-luz do teatro. Caminha pela fileira de poltronas, com os olhos semicerrados, buscando seu número. Não acha. Vira para a fileira de trás e pergunta:
– Essa aqui é a 15?
– É sim! – respondem quatro adolescentes em uníssono.
– Obrigada.
Ela se senta, aparentemente satisfeita. Na fileira de trás, o quarteto se encara com os olhos esbugalhados e sorriso no rosto. Comunicam-se sem emitir sons, mas consigo ler seus lábios:
– É ela! Você viu?
Algumas pessoas na sala começam a enviar sms para sabe-se lá Deus quem se vangloriando de estar na mesma sala que ela. Eu mesmo penso em avisar minha mãe. É o Rio de Janeiro, a Hollywood brasileira, que começa a se render. Entram uns fotógrafos e pedem para fotografá-la. Ela aceita, mas não se move. Parece querer que a situação ocorra o mais discretamente possível. Mas todo mundo olha.
Novos adolescentes entram no teatro – o local está cheio deles, porque a peça tem o título apelativo, no melhor dos sentidos, de “Um Conto de Fadas Punk” – e uma garota logo a identifica.
– Olha só!
– Quem é ela?
– Fernanda Montenegro!
– E? – o moleque parece não saber de quem se trata.
– É a rainha do teatro! – a menina revela certa emoção.
– Ah, é aquela do “Central do Brasil”, né?
– Isso!
– Não deve ser ela. É uma coroa qualquer e você tá se confundindo.
Rio.